Ontem entrei numa sala de cinema para ver o tão já assistido 'O Pátio das Cantigas '. Ainda antes de o filme iniciar, na ânsia de participar num enredo inteligente, apesar de assustador e com queda para o abismo, surge uma apresentação d'O Leão da Estrela. Ora bem, ainda estava a tentar concentrar-me (e preparar-me) para assistir a tão brilhante êxito de bilheteira quando dou por mim a ler este título no ecrã. Pois, podemos todos contar com este filme no Natal (esperemos que não manche tal época do ano, intocável a meu ver). Passo à frente e espero que Leonel Vieira, realizador desta 'obra', não desiluda a alma lusitana ou a sala (quase) cheia entre pipocas doces e salgadas.
Eis que o filme inicia. É hora de esperar o melhor, ou o pior. Entre a falta de cavalheirismo, carisma e humor inteligente é-nos servida uma 'comédia' em modo remake (parece que está na moda) de um filme que, passados tantos anos, continua fantástico e que a todos nós nos faz rir. Seria de esperar que fosse intocável mas, ao que parece, não houve escudo que o defendesse. Comecemos com a ousada Rosa, interpretada por Dânia Neto, sempre educada e simpática com todos que trabalha entre sapatos. Miguel Guilherme desilude num esforço imenso de chegar aos calcanhares da interpretação de António Silva. Vasco Santana, Narciso, por César Mourão enquanto condutor de tuk tuk - a sua Esmeralda - e guia de turistas ora de dia ora a qualquer hora, se é que me entendem. E sempre entre copos. Um remake que em nada respeita o original. Um remake que de tradicional pouco tem com tanta tecnologia pelo meio. O Evaristo, veja-se, proprietário de uma loja gourmet... e com uma filha teenager que passa o filme ao telemóvel e que engravida de um dos funcionários do pai - do loiro, entre cenas calorosas que de inocentes pouco ou nada têm. A loja do ouro que se localiza próximo da tal mercearia gourmet. Avançamos para um casal de indianos com uma filha... continuamos com José Pedro Vasconcelos num papel nada encantador. Seguimos entre um carteiro dos CTT que também gere um hostel onde a 'menina' Rosa cozinha (afinal não se fica pelos sapatos). Este carteiro é interpretado por Manuel Marques que é apaixonado por Maria da Graça (Oceana Basílio) que, ao fim de contas, não gosta de homens e tem uma namorada brasileira. Mas há mais, a sedutora e dominante Amália (Sara Matos) que quer ser famosa. A sua irmã que contado ainda tem menos graça (se é que tem alguma). Em nenhuma parte do filme assistimos à célebre cena completa, ornamentada com 'Ó Evaristo, tens cá disto?' mas podemos assistir a uma com 'Ó Evaristo, não tens cá wifi?' (a sério!?).
Enfim, infelizmente, poderia continuar com referências ao único canal televisivo evidenciado no filme - a RTP, ou à única marca de cerveja do bairro - a Sagres. Não consigo perceber este enredo nem esta produção. Não considero que existam homenagens ao verdadeiro e único 'O Pátio das Cantigas'. Este êxito de bilheteira que se explica pela curiosidade fugaz de todos, é dos tugas e não dos portugueses. O Leão da Estrela já foi anunciado, espero que se consiga preservar a Canção de Lisboa que, pelos vistos, também está contemplada nestes planos contemporâneos.
O filme não poderia acabar de pior forma. Se durante o enredo tinham surgido algumas risadas entre a constante tentativa de distanciamento do filme original, tudo caiu por terra no final. Aos que assistiram ao filme 'Quem quer ser bilionário', digo-vos que o final de ambos os filmes é - estranhamente - semelhante. Pois bem, 'O Pátio das Cantigas' (em modo remake) termina com uma dança que, se nada remete ao original, pouco remete ao novo. Reúnem-se, os actores, numa sala. A música de origem indiana, se a memória não me atraiçoa, é acompanhada por movimentos sem sentido algum. É aqui que a desilusão se instala, oficialmente, e que estávamos à espera de mais (ou de menos...).
Fica o bom desempenho de alguns dos actores e a lição de que há coisas que não podem ser copiadas ou remeikadas.
Ó Leonel, não faça mais disto!
Muito vos contei?
Maria Inês,
Muito me contas